Petrobras vende mais de 100 ativos e foca no pré-sal

A trajetória da Petrobras nos últimos anos é pura emoção, quase como um filme de Hollywood, cheio de reviravoltas. Em 2015, a empresa estava em apuros, mergulhada em dívidas e envolvida naquele escândalo da Lava Jato que todo mundo se lembra. Era o tipo de situação que levava qualquer companhia ao colapso. Para dar a volta por cima, a Petrobras tomou uma decisão radical: colocou em prática um plano de desinvestimentos que envolveu a venda de mais de 100 ativos e gerou bilhões em receita.

Esse movimento não puxou a Petrobras apenas para fora da crise. Ele alterou toda a dinâmica da empresa. Antes, a estatal era vista como uma gigante de energia integrada, mas, com essa mudança, ela se transformou em uma expert altamente lucrativa na exploração do pré-sal. Agora, em 2025, a companhia está colhendo os frutos dessa estratégia, mas já enfrenta novos desafios políticos que podem forçar outra reviravolta.

A crise de 2015 e a origem do programa de desinvestimentos

Em 2014, a situação da Petrobras era um verdadeiro desastre. O escândalo da Lava Jato expôs uma rede de corrupção que obrigou a empresa a reconhecer uma perda contábil de cerca de R$ 10 bilhões. Para complicar as coisas, a queda nos preços do petróleo e uma política de preços de combustíveis deficitária contribuíram para resultarem em prejuízos recordes.

O rombo financeiro foi enorme. Em 2015, a companhia registrou um prejuízo impressionante de R$ 34,8 bilhões — o maior da sua história — e a dívida alcançou a casa dos US$ 126 bilhões. Para não entrar em colapso, a Petrobras lançou um audacioso programa de desinvestimentos, visando reduzir essa dívida e focar em projetos mais rentáveis.

Os ativos vendidos e os bilhões arrecadados

Entre 2015 e 2022, a Petrobras fez uma limpa impressionante, se desfazendo de mais de 100 ativos em regiões onde não se via mais como a "melhor dona". Esta lista incluiu campos de petróleo maduros, gasodutos, petroquímicas e refinarias.

Algumas vendas merecem destaque:

  • BR Distribuidora: Líder do mercado de postos de combustível, a venda foi feita em etapas e culminou em 2021, arrecadando US$ 2,3 bilhões.

  • Gasodutos (NTS e TAG): As principais malhas de gasodutos do Sudeste e Nordeste foram vendidas para consórcios internacionais, resultando em mais de US$ 13 bilhões e abrindo o mercado de gás para concorrência.

  • Refinaria Landulpho Alves (RLAM): Em 2021, a refinaria baiana, que representa 14% da capacidade de refino do país, foi vendida por US$ 1,8 bilhão.

O foco absoluto no pré-sal: a nova estratégia da Petrobras

A intenção da Petrobras ao vender ativos era clara: concentrar todos os esforços na exploração dos campos do pré-sal, onde a produtividade é excepcional. Os reservatórios do pré-sal, especialmente os de Tupi, Búzios e Mero, agora representam 80% da produção da empresa.

O custo para extrair um barril de petróleo no pré-sal caiu para menos de US$ 3, colocando a Petrobras em uma posição de destaque no cenário mundial.

Lucros recordes e dividendos massivos

Essa nova abordagem trouxe um sopro de vida na saúde financeira da Petrobras. A dívida, que era de US$ 126 bilhões em 2015, caiu para US$ 62,6 bilhões no final de 2023. Com as contas em dia, a empresa se tornou uma verdadeira "máquina de dinheiro".

Em 2022, na verdade, ela registrou um lucro de US$ 36,6 bilhões e se posicionou como a segunda maior pagadora de dividendos do mundo, distribuindo R$ 215,7 bilhões a acionistas, incluindo o Governo Federal.

A pressão para voltar a investir e o risco político

Agora, em 2025, a Petrobras enfrenta um novo dilema. A mudança de governo trouxe uma nova perspectiva, pressionando a empresa a retomar o papel de impulsionadora do desenvolvimento nacional. A antiga estratégia de se focar apenas nos lucros e dividendos começou a ser questionada.

A nova diretriz envolve voltar a investir em setores nos quais a empresa havia se afastado, como o refino. A Petrobras já está em negociações para recomprar uma parte da Refinaria de Mataripe (antiga RLAM) e retomou planos de expansão em outras refinarias. Apesar disso, essa mudança gera incertezas no mercado. O receio é que a empresa desvie recursos de suas operações lucrativas do pré-sal para investir em áreas com retornos menores, mas com apelo político, o que adiciona um “risco” à sua avaliação.