65% do ouro levado por Portugal foi parar nas mãos da Inglaterra

No século XVIII, Portugal viveu um verdadeiro “boom” econômico com a extração de ouro das minas brasileiras. O metal precioso fazia com que Lisboa se destacasse como um novo centro de opulência no mundo, mas essa situação não durou. Embora as minas de Minas Gerais estivessem cheias, a maior parte dessa riqueza não ficou em solo português. O ouro seguia diretamente para Londres, alimentando os bancos britânicos e ajudando a transformar o Reino Unido em uma potência econômica.

Esse paradoxo é intrigante: quanto mais ouro Portugal extraía, mais sua economia se tornava dependente e estagnada.

A maior corrida do ouro da história

No final do século XVII, os bandeirantes paulistas descobriram os primeiros veios de ouro em Minas Gerais. A notícia se espalhou e deu início a uma corrida pelo metal que nunca se viu igual. A coroa portuguesa começou a controlar essa extração, impondo impostos como o famoso “quinto”, que era 20% de tudo que era extraído.

O auge da mineração aconteceu no século XVIII, com a estimativa de que mais de 800 toneladas de ouro foram enviadas para Portugal nesse período. Os dados, provenientes de registros oficiais, mostram que, entre 1697 e 1760, o Brasil enviou 529 toneladas, e entre 1753 e 1801, outras 280 toneladas. Essa riqueza fez de Minas Gerais o coração econômico da colônia, fazendo cidades como Ouro Preto prosperarem a ponto de, em 1750, ter mais habitantes que Nova York.

O Tratado de Methuen e a armadilha econômica

Em 1703, Portugal e Inglaterra assinaram o Tratado de Methuen, conhecido como o Tratado dos Panos e Vinhos. O acordo favorecia a compra de tecidos britânicos com tarifas reduzidas e, em troca, os ingleses diminuíam os impostos sobre vinhos portugueses. Embora parecesse um bom negócio, havia um detalhe: os tecidos britânicos eram bem mais caros que o vinho.

Enquanto isso, a indústria inglesa se modernizava, enquanto Portugal não tinha uma base industrial forte. O resultado foi que Portugal passou a importar muito mais do que exportava, criando um desequilíbrio econômico crônico. Assim, o ouro que vinha do Brasil começou a servir para cobrir essas contas desequilibradas.

Dois terços do ouro foram parar na Inglaterra

Historiadores afirmam que cerca de dois terços do ouro extraído no Brasil acabou nos cofres ingleses. Essa estimativa considera a balança comercial desajustada que Portugal mantinha com a Inglaterra. O ouro enviado da colônia era usado para bancar o consumo português de produtos britânicos.

Esse ouro foi parar em instituições financeiras como o Banco da Inglaterra, fundado em 1694. As quantias foram usadas tanto para cunhagem de moedas quanto para aumentar a capacidade de crédito da economia britânica. O resultado? O ouro que saía dos rios de Minas Gerais acabava sustentando a Revolução Industrial na Inglaterra.

A Revolução Industrial inglesa e o papel do ouro brasileiro

A Revolução Industrial, que começou na segunda metade do século XVIII, exigia um enorme capital para a construção de fábricas e obras de infraestrutura. Embora não tenha sido o único fator, o ouro brasileiro teve um papel fundamental nesse processo. Ele trouxe liquidez e confiança ao sistema monetário britânico.

Esse apoios financeiros permitiram que a Inglaterra importasse matérias-primas e mantivesse suas guerras e expansão imperial, enquanto Portugal, por outro lado, parecia rico, mas sem progresso econômico real.

A estagnação portuguesa apesar da riqueza

Esse fenômeno é o que muitos chamam de “paradoxo da riqueza fácil”. Em vez de aproveitar o ouro para diversificar a economia, Portugal se tornou cada vez mais dependente de importações. O ouro poderia ter sido a base para a modernização, mas acabou apenas criando uma ilusão de riqueza.

Com o tempo, as minas começaram a secar e a produção de ouro despencou a partir de 1760. Sem um plano para diversificar a economia, Portugal entrou em crise. É interessante notar que, enquanto a elite se beneficiava, a maioria da população enfrentava dificuldades.

A fortuna que Portugal perdeu

O que poderia ter se tornado um motor de transformação econômica se transformou em uma fase de brilho passageiro. Analisando a história, fica claro que quem realmente ganhou com o ouro foi a Inglaterra. Londres se firmou como um centro financeiro mundial, enquanto Portugal só preservou palácios e igrejas, mas sem capacidade de competir com as potências do século XIX.

Os produtos britânicos, como tecidos e vinhos caros, foram a moeda de troca pelo ouro que jorrava do Brasil.

Quando o império era dourado, mas o lucro era inglês

No final do século XVIII, o contraste era notável. Portugal celebrava seu passado glorioso, mas olhava para um futuro incerto. A Inglaterra, por sua vez, prosperava com uma combinação de pragmatismo e industriosidade, apoiada por recursos que não eram seus.

O ouro extraído de localidades como Vila Rica foi convertido em locomotivas e bancos em Londres, e a conexão entre o interior do Brasil e o poder financeiro atual é visível até hoje.

Esse capítulo da história é um importante lembrete sobre as complexas relações econômicas e as consequências de decisões que moldaram o futuro das nações. O ouro foi um presente que Portugal deu à Inglaterra, enquanto se via cada vez mais preso a um ciclo de dependência e estagnação.