Como marcas e religiões influenciam suas escolhas e preferências
Estamos cercados por estratégias que influenciam nossas decisões, seja em compras, seja na forma como nos relacionamos com a fé. Em lojas, igrejas, restaurantes e redes sociais, somos guiados a agir de maneiras que parecem espontâneas, mas que, na verdade, seguem padrões bem definidos. Um estudo interessante sobre isso foi feito pelo especialista em comunicação Ícaro de Carvalho.
O poder das marcas no nosso comportamento
As empresas investem somas enormes para induzir compras impulsivas. Um exemplo é o caso de uma cliente que só decidiu levar uma bolsa quando o vendedor disse que era a última disponível. Isso é o que chamamos de “cliente takeaway”, um tipo de comportamento que se ativa quando o item parece escasso. Essa sensação de urgência é comum em situações de alta demanda, como quando lançam produtos luxuosos.
As marcas têm uma habilidade incrível de manipular o desejo por meio da escassez e da simbologia social. Por exemplo, bolsas, relógios e tênis se tornam vistos como “investimentos”, mesmo que não gerem retorno financeiro. Para muitas pessoas, esse simbolismo é tudo. Você não está apenas comprando um item; está comprando um status, como bem pontua Ícaro.
Rituais de fé e estratégias de vendas
Assim como as lojas usam vitrines para atrair clientes, as igrejas utilizam rituais e músicas que criam um ambiente propício para a adesão. Metas de arrecadação são comuns em comunidades religiosas, e quando a fé se encontra com a lógica de mercado, surgem dinâmicas como sorteios e eventos especiais. O objetivo é claro: aumentar a participação.
Uma parte essencial desse processo é a manipulação emocional. Mensagens que ressaltam a “abundância” e “vida próspera” conectam o discurso religioso às práticas de marketing. A promessa de recompensas futuras, como bênçãos ou milagres, é análoga ao benefício que se espera de uma compra. Além disso, a pressão para contribuir financeiramente se assemelha à urgência que sentimos ao encontrar uma oferta imperdível.
O ambiente que molda decisões
Espaços de consumo são elaborados para influenciar nosso comportamento. Por exemplo, restaurantes por quilo usam pratos maiores com a intenção de fazer os clientes preencherem mais a refeição. Já os supermercados destacam produtos com placas que sugerem promoção, mesmo que o preço não tenha mudado.
O arranjo dos produtos também tem seu papel. Itens posicionados nas entradas ou empilhados no centro da loja costumam ser os mais vendidos. Embora a palavra “oferta” tenha se tornado comum, ela ainda captura a atenção dos consumidores. E, em livrarias, os livros que estão nas listas dos mais vendidos têm uma vantagem – simplesmente por estarem mais visíveis.
O vício do consumo
Fast foods calibram seus produtos com máximas quantidades de gordura, açúcar e sal, criando uma resposta de prazer que é quase viciante. Essa química se aproxima da sensação gerada pelo uso de substâncias como álcool, que, aliás, também aparece em lojas de roupas ou cassinos. A oferta gratuita de bebidas em um ambiente social muitas vezes ajuda a desinibir o consumidor.
As redes sociais utilizam recompensas intermitentes como curtidas e seguimentos para criar um ciclo de dependência. Essas interações atuam como estímulos de dopamina. Além disso, plataformas punem os usuários que não mantêm uma presença constante, o que acaba forçando as pessoas a estarem sempre ativas em ambientes de venda.
Competição como manipulação
O sistema toyotista é uma ilustração interessante de como a competição pode ser uma estratégia de manipulação. Nele, trabalhadores são divididos em grupos com líderes e metas, competindo por prêmios que aumentam a produtividade, mesmo sob tensão.
Esse conceito se aplica ao consumo também. Ao ver amigos usando produtos de grife, é natural sentir pressão para ter o mesmo. A publicidade nos atrela a essas comparações sociais, oferecendo “atalhos” como financiamento e parcelamento, alimentando um ciclo difícil de escapar.
Essas táticas não se limitam apenas às classes altas. Até a classe média pode cair em armadilhas. Vemos isso em promoções de multipropriedades, onde uma refeição grátis pode se transformar em uma dívida enorme.
Portanto, seja em um culto, na loja ou nas redes sociais, as marcas têm um controle sutil sobre nossas decisões.