Escassez de mão de obra no agro leva agricultores a ofertas altas

A mão de obra rural no Espírito Santo está vivendo um momento sem precedentes, com salários subindo e atraindo trabalhadores das cidades para o campo. Esse fenômeno reflete a força do agronegócio e também a crescente dificuldade em encontrar mão de obra qualificada nas lavouras.

Em Laranja da Terra, o produtor Adelson Rossmann traz uma proposta ousada: salários de até R$ 12 mil por mês para oito colhedores de café conilon. Esse valor impressionante supera as médias históricas e mostra como uma oferta competitiva pode fazer a diferença. A expectativa é que nesta safra sejam colhidas cerca de 300 sacas, um número um pouco maior que no ano passado, impulsionado pelos preços altos do conilon e do arábica.

Esse cenário tem levado a um aumento significativo nos pagamentos aos trabalhadores. O secretário de Agricultura do estado, Enio Bergoli, confirma que muitos colhedores estão ganhando entre R$ 7 mil e R$ 8 mil por mês. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo, Júlio Rocha, complementa com relatos sobre pagamentos diários que variam de R$ 500 a R$ 1.000, dependendo do desempenho e do tipo de contrato.

João da Silva, um catador de café de 45 anos em Linhares, conta que no último mês recebeu R$ 7 mil após jornadas exaustivas nas lavouras, e diz que o dinheiro será útil para consertos na casa e para ajudar as crianças. Outros trabalhadores relatam que é possível ganhar até R$ 3 mil por semana, embora muitos prefiram não se identificar por conta de receios relacionados à sua exposição.

Por que os salários subiram tanto?

O aumento salarial tem várias razões. De acordo com Abraão Carlos Verdin Filho, coordenador da cafeicultura do Incaper, o preço médio da saca está em R$ 40, e um colhedor consegue tirar cerca de 15 sacas por dia. Isso resulta em uma renda mensal média de R$ 6 mil a R$ 8 mil. Além disso, o produtor Márcio José Gomes observa que alguns contratos pagam entre R$ 35 e R$ 75 por saca.

Para contornar a falta de mão de obra, algumas propriedades estão adotando o modelo de arrendamento, oferecendo 20% da produção ao proprietário das terras. Essa tendência vem crescendo conforme a demanda por trabalhadores especializados aumenta.

Êxodo urbano e disputa por colhedores

Um fenômeno interessante está em jogo: muitos profissionais das cidades estão temporariamente migrando para o campo em busca de uma renda extra durante a safra. Isso inclui trabalhadores do comércio, que se inscrevem como colhedores e até aproveitam férias para entrar nessa atividade, segundo Júlio Rocha.

No entanto, essa entrada não é tão simples. As questões burocráticas em relação a benefícios assistenciais, como o Bolsa Família, podem ser um obstáculo. Para resolver isso, um projeto de lei foi aprovado na Câmara e deve permitir que beneficiários mantenham seus auxílios ao conseguir uma carteira assinada temporária; agora, a proposta segue para o Senado.

Crescimento da produção e rentabilidade local

O Espírito Santo está preparado para uma colheita impressionante, com expectativa de 16,4 milhões de sacas de café em 2025. Isso representa um crescimento de 18,2% em relação ao ano anterior. O estado abriga a maior área de cultivo de conilon do Brasil, com 286,7 mil hectares dedicados, parte vital da tradição cafeeira nacional.

Espera-se que a safra seja composta por 13,1 milhões de sacas de conilon (+33,1%) e 3,3 milhões de sacas de arábica (uma queda de 18,2% devido à bienalidade). Essa diversidade mostra a adaptabilidade do conilon ao clima do Espírito Santo.

Preços recordes e retorno econômico

A valorização no mercado também tem como base o preço das sacas. Atualmente, a saca de arábica do tipo bebida rio é negociada por mais de R$ 1.900, enquanto o conilon permanece acima de R$ 1.600. Com isso, a produção cafeeira pode alcançar um valor bruto de R$ 30,88 bilhões em 2025, o que corresponde a 24,6% do total do café produzido no Brasil, avaliado em R$ 125,7 bilhões.

Esse cenário reforça a relevância do agronegócio no Espírito Santo e a necessidade urgente de estratégias que atraem trabalhadores para o campo. O crescimento dos salários mostra que a demanda por mão de obra é real e deve ser equilibrada com políticas que promovam o desenvolvimento rural e a segurança social.

Gestão, sucessão familiar e salários no campo

Além dos altos salários, o setor enfrenta o desafio de modernizar a gestão e lidar com a sucessão familiar. Muitas propriedades têm sofrido com herdeiros que buscam oportunidades em outras áreas, levando à contratação de gestores capacitados. Esses profissionais com formação superior podem receber entre R$ 6,5 mil e R$ 7 mil mensais, com possibilidade de chegar a R$ 20 mil em cargos estratégicos. Isso não apenas aumenta a competitividade do agronegócio, mas também contribui para uma formalização maior no campo.