Carro popular da Fiat no Brasil é econômico e elétrico

Imagine um carro que não funciona com gasolina, não faz barulho, é carregado na tomada e ainda roda como se rendesse 60 km por litro. Parece futurista, né? Na verdade, esse carro já foi realidade no Brasil… em 2006. O protagonista dessa história é o famoso Fiat Palio. Conhecido como um dos compactos mais amados do país, ele ganhou uma versão elétrica, produzida em Betim (MG), que tinha uma proposta ousada para a época: rodar com baterias de sal.

O design do Fiat Palio elétrico era bem similar ao modelo comum. Ele tinha a mesma carroceria de quatro portas e o visual básico que a gente já conhecia. Mas quando você girava a chave, a mágica acontecia. O motor a combustão foi trocado por um motor elétrico assíncrono trifásico, refrigerado a água. E o melhor? Ele andava em completo silêncio. Tanto que a Fiat teve que adicionar uma campainha para avisar os pedestres quando o carro estava dando ré.

Agora, se você estava esperando um desempenho de arrasar, melhor se acomodar. O 0 a 100 km/h levava uns longos 28 segundos e a velocidade máxima não chegava a passar de 110 km/h. Mas a troca era justa: em vez de performance, o Palio oferecia um custo baixíssimo por quilômetro rodado. Se você o carregasse durante a madrugada, o gasto de uso era como ter um carro que fazia 60 km por litro de gasolina.

Essa ideia veio da Itaipu Binacional, a maior hidrelétrica do mundo, que queria desenvolver uma tecnologia nacional para carros elétricos. O projeto buscava não só fazer o carro funcionar, mas também nacionalizar peças, baixar os custos e aumentar a autonomia, tudo isso até 2008. Carlos Eugênio Dutra, da Fiat, tinha grandes expectativas para o modelo.

Embora não fosse perfeito, o Palio elétrico prometia muito. Com 165 kg de bateria no lugar do estepe e um motor elétrico de 42 kg na frente, a distribuição de peso mudou o comportamento dinâmico do carro. Mesmo sendo apenas 69 kg mais pesado que a versão com motor 1.0, a suspensão dianteira não foi calibrada, e o resultado? O Palio elétrico chegou a cantar pneu nas arrancadas.

A bateria do Fiat Palio era feita de… sal

Um ponto alto desse projeto estava no sistema de baterias, feitas de cloreto de sódio. Isso mesmo, sal! A fabricante suíça MES-DEA garantiu que essas baterias tinham uma vida útil de 150.000 km, além de serem parcialmente recicláveis e biodegradáveis. Assim, o projeto se tornava ainda mais atraente para quem se preocupava com o meio ambiente.

A recarga? Uma facilidade. Você poderia usar uma tomada comum de 110 ou 220 volts, com uma corrente de até 16 ampères – menos do que um chuveiro elétrico. Depois de cerca de oito horas, o carro estava pronto para rodar até 120 km na cidade ou 110 km na estrada. Além disso, um botão chamado “Recupero” aumentava a autonomia ao regenerar energia durante as frenagens.

Uma proposta modesta, mas funcional

Tudo no Palio elétrico foi pensado para ser simples e prático. A Fiat manteve a estrutura do sistema de freios, mudando só o servo para funcionar com uma bomba elétrica. As antigas peças, como a bateria de 12V e o radiador, foram reaproveitadas. A ideia era criar um modelo elétrico voltado para frotas institucionais, com eficiência acima de tudo.

Fiat Palio elétrico virou raridade, mas existiu

Com o tempo, o projeto evoluiu. Em 2009, uma versão elétrica da Palio Weekend foi lançada, com 38 cv e o mesmo tipo de bateria, mas ainda limitada a 100 km/h. Ao todo, foram produzidas apenas 66 unidades, usadas em locais estratégicos, como o Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, e o Arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco. A Fiat nunca comercializou esses modelos ao público, transformando-os em relíquias quase desconhecidas.

Para quem acha que os carros elétricos são uma novidade no Brasil, vale recordar: a Fiat já apostava nessa tecnologia duas décadas atrás, com um modelo totalmente nacional, silencioso e que, se lançado hoje, com certeza faria sucesso nas ruas urbanas.

Ficha técnica: Fiat Palio Elétrico (2006)

  • Motor: dianteiro, elétrico, assíncrono trifásico, refrigerado a água
  • Potência: 37,8 cv a 9.000 rpm
  • Torque: 12,6 mkgf a 9.000 rpm
  • Transmissão: sentido de giro do motor define marcha à frente ou ré; tração dianteira
  • Peso total: 1.029 kg
  • Autonomia: até 120 km no ciclo urbano
  • Velocidade máxima: 110 km/h
  • Suspensão: McPherson na dianteira, barra de torção na traseira
  • Freios: disco na frente, tambor atrás, com servo-freio elétrico
  • Rodas/Pneus: 145/80 R13
  • Porta-malas: 290 litros
  • Carregamento: 110/220V, corrente de até 16A, carga completa em 8h

E hoje? A Fiat ainda aposta em carros elétricos?

Atualmente, a Fiat voltou a se empenhar no segmento de carros elétricos. O compacto 500e é um dos modelos mais vendidos da marca na Europa e já chegou ao Brasil, mirando nos consumidores urbanos. Apesar dos altos preços, o crescimento dos elétricos no país mostra que a semente plantada pelo Palio elétrico pode ter demorado, mas começou a brotar.

Com modelos como o Fiat 500e e propostas híbridas, além de parcerias com marcas de energia, o futuro da Fiat e do mercado brasileiro parece estar cada vez mais conectado às novas tecnologias de mobilidade.