Muralha de sal de 2.000 metros que a Petrobras enfrentou no mar

Para acessar a grande riqueza que representa o pré-sal, a Petrobras teve que enfrentar um obstáculo geológico desafiador: uma enorme muralha de sal com 2.000 metros de espessura, que está enterrada a quilômetros de profundidade no fundo do oceano.

Superar essa barreira não foi tarefa fácil. A empresa precisou desenvolver tecnologias inovadoras para conseguir “ver” através do sal e perfurá-lo de forma segura. Dominar essa camada instável não só liberou uma riqueza enorme, mas também colocou o Brasil entre as potências globais na exploração de petróleo em águas ultraprofundas.

A geologia do pré-sal: como a muralha de sal se formou e escondeu o petróleo por milhões de anos

A história do pré-sal começa há mais de 100 milhões de anos, quando os continentes americano e africano começaram a se separar. No processo, grandes lagos surgiram e acumularam uma enorme quantidade de matéria orgânica. Com o tempo, isso se transformou em petróleo.

Depois, com a invasão do mar e a intensa evaporação, uma camada maciça de sal foi formada, cobrindo os reservatórios de petróleo e gás. Essa muralha de sal acabou aprisionando esses recursos por milhões de anos, mas também se tornou um desafio formidável para as atividades de exploração.

O desafio de perfurar o sal: um obstáculo instável que se move como um glaciar

O que torna a muralha de sal tão complexa não é só sua espessura, mas o fato de que ela está em constante movimento. Sob a pressão e temperatura do fundo do mar, o sal se comporta como um glaciar em miniatura. Para quem atua na perfuração, isso significa que a rocha está sempre tentando esmagar o poço, criando um cenário desafiador.

Esse fenômeno é conhecido como halocinese e representa um perigo constante durante a perfuração. O movimento do sal pode fechar o poço rapidamente. Para enfrentar isso, a Petrobras desenvolveu fluidos de perfuração especiais e a técnica de Perfuração com Pressão Gerenciada. Essa técnica controla a pressão no poço em tempo real, prevenindo o colapso.

A revolução da Petrobras para criar um mapa sob a muralha de sal

Antes de começar a perfurar, era crucial entender o que havia abaixo da muralha de sal. Essa camada funcionava como um espelho distorcendo as ondas sísmicas, dificultando a identificação dos reservatórios. Era como tentar decifrar um mapa embaçado, o que tornava a perfuração um verdadeiro tiro no escuro.

Para solucionar esse problema, a Petrobras liderou uma mudança significativa na geofísica. Ela começou a usar tecnologias como:

Ocean Bottom Nodes (OBN): milhares de sensores instalados no fundo do mar captam ondas sonoras de todas as direções.

Full Waveform Inversion (FWI): algoritmos complexos que rodam nos potentes supercomputadores da Petrobras, permitindo criar um "mapa" preciso do que existe sob o sal, eliminando distorções e revelando a localização exata dos reservatórios.

A recompensa da conquista: produção recorde e o domínio do Brasil em 2025

Depois de desvendar o mistério da muralha de sal, o Brasil viu sua produção de petróleo disparar. Em março de 2025, a produção do pré-sal atingiu a marca impressionante de 3,716 milhões de barris de óleo equivalente por dia, respondendo por quase 80% da produção nacional.

Esse avanço tecnológico e geológico resultou em custos de extração que estão entre os mais competitivos do mundo, variando de US$ 2 a US$ 3,3 por barril. E a produtividade dos poços é surpreendente: enquanto um poço no Golfo do México produz cerca de 10.000 barris diários, um poço médio no pré-sal brasileiro gera mais de 30.000.

O futuro após vencer a muralha de sal: a vantagem competitiva do Brasil

O domínio da tecnologia de perfuração na muralha de sal proporcionou ao Brasil e à Petrobras uma vantagem competitiva duradoura. O conhecimento adquirido em geofísica, perfuração e gestão de reservatórios em um ambiente tão único é difícil de ser reproduzido por outros concorrentes.

Esse “fosso tecnológico” criado para lidar com a muralha de sal garante que o Brasil continue na vanguarda em águas ultraprofundas. Além de encontrar uma grande riqueza sob o Atlântico, essa conquista técnica solidificou a soberania e a capacidade energética do país para o século XXI.