Uma reforma em um casarão antigo de Rio Claro, no interior de São Paulo, acabou trazendo à tona um dos mistérios mais intrigantes da região. Com aproximadamente 200 mil habitantes, a cidade viveu um verdadeiro alvoroço nos anos 90 quando, durante uma obra, um pedreiro descobriu acidentalmente uma entrada para uma rede subterrânea.
A história começou quando a Imobiliária Saraiva comprou aquela casa para fazer sua sede. Durante as reformas, um barulho forte ecoou e, surpresa geral, parte do chão se abriu, revelando um túnel de tijolos. Ao investigar mais a fundo, os trabalhadores encontraram um espaço surpreendente: um túnel com 3 metros de altura e 20 metros de comprimento, revestido de granito escuro e se estendendo para debaixo de outras construções.
Logo abaixo do quintal da casa, a equipe encontrou frascos de remédios, tubos de ensaio e outros objetos farmacêuticos. Isso deixou os moradores ainda mais intrigados, e não demorou para que várias histórias e lendas começassem a circular sobre a função desse espaço escondido.
Revelações antigas e novas
Embora a descoberta em Rio Claro tenha ganho destaque na década de 90, o assunto não era exatamente novidade. Nos anos 70, a museóloga Marizilda Couto, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), já havia estudado túneis similares na cidade. Ela descobriu que parte dessa rede passava sob a Praça da Liberdade, conectando a antiga Igreja Matriz à Igreja do Convento, que hoje abriga o Colégio Puríssimo.
Naquela época, surgiram rumores de que corpos de bebês teriam sido encontrados embaixo do obelisco da praça, mas essas histórias nunca foram confirmadas oficialmente. Embora o mistério tenha permanecido na memória da população por anos, ele acabou caindo no esquecimento até as escavações dos anos 90.
Novas escavações e novos mistérios
Em 2013, o casarão da Rua 6 foi vendido novamente, e o novo proprietário decidiu explorar os túneis mais a fundo. Ele fez novas escavações e encontrou uma sala de 5 metros de altura com um teto em forma de abóbada. O mais curioso dessa sala foi a descoberta de um possível altar e uma caixa metálica enferrujada, que se assemelhava a uma alavanca de elevador.
Esse achado reacendeu a curiosidade sobre a rede subterrânea de Rio Claro, que parece conectar várias igrejas, casas antigas e pontos históricos da cidade. No entanto, o verdadeiro propósito desses túneis ainda é um grande enigma.
Teorias e lendas urbanas
Sem explicações claras, os moradores criaram diversas teorias a respeito dos túneis. Uma das mais conhecidas sugere que eles serviam como rotas de fuga para escravizados, já que Rio Claro foi uma das primeiras cidades a libertar seus escravos. Outras versões mais fantásticas incluem a ideia de que a rede era usada para rituais satânicos ou possuía relíquias sagradas, como a cabeça de São João Batista.
Algumas histórias até falam de maçons ou até de extraterrestres envolvidos. Mesmo com essas narrativas circulando pela cidade há décadas, nenhuma delas foi confirmada. Aliás, até agora, os túneis ainda não passaram por uma investigação científica rigorosa.
O que falta para saber mais?
Sem pesquisas aprofundadas, muitas perguntas permanecem sem resposta. A principal teoria entre os estudiosos locais é que esses túneis foram construídos entre o século XVIII e meados do XIX, durante a época em que diversos prédios importantes da cidade estavam sendo erguidos.
Infelizmente, muitos trechos da rede subterrânea podem ter sido destruídos ou bloqueados por construções mais novas. Estima-se que pelo menos 25 pontos da estrutura original foram substituídos por novos edifícios, o que dificulta ainda mais o acesso a possíveis entradas ou conexões.
Atualmente, o assunto parece ter caído novamente no esquecimento. Sem pesquisas em andamento ou planos públicos para investigar o que sobrou desses túneis, a curiosidade dos moradores persiste. Assim, mesmo em meio à rotina comum de Rio Claro, ainda existe um labirinto silencioso de histórias e mistérios à espreita sob a superfície.