Brasileiros buscam IA para fazer terapia: ‘melhor coisa que me aconteceu’
IA para fazer terapia se populariza nas redes, mas especialistas alertam sobre riscos. Veja como funciona, seus limites e o que evitar nesse processo.
A busca por alternativas acessíveis e imediatas para cuidar da saúde mental tem levado muitas pessoas a explorar novas tecnologias. Entre elas, o uso de IA para fazer terapia vem ganhando destaque nas redes sociais e em plataformas digitais. Usuários relatam experiências emocionantes com sistemas de inteligência artificial que simulam escuta, acolhimento e conselhos terapêuticos.
Esse comportamento cresceu especialmente entre jovens, que compartilham dicas de como usar ferramentas como o ChatGPT para conversar sobre sentimentos, angústias e dúvidas existenciais. Muitos afirmam que preferem desabafar com a IA porque ela está sempre disponível, não julga e ainda se lembra de interações anteriores. Para alguns, o conforto gerado pela conversa já representa um alívio temporário.
Contudo, especialistas em psicologia alertam para os riscos desse uso. Embora possa oferecer conforto momentâneo, a inteligência artificial não substitui o acompanhamento profissional. A ausência de empatia genuína, a possibilidade de reforço de pensamentos problemáticos e a falta de análise clínica tornam o uso exclusivo da IA uma prática preocupante.
Nesse contexto, o debate sobre o papel da IA na terapia continua crescendo. Por isso, é essencial entender os benefícios, os limites e os cuidados necessários ao utilizar essa tecnologia no cuidado com a saúde emocional.

IA para fazer terapia: veja os detalhes
Por que a IA para fazer terapia se tornou tão popular?
A popularidade da IA para fazer terapia está ligada à sua facilidade de acesso. Qualquer pessoa com um celular ou computador pode conversar com um sistema de inteligência artificial a qualquer hora do dia. Isso atrai especialmente quem não consegue marcar uma sessão tradicional de terapia ou não tem recursos para arcar com o custo de um profissional.
Outro fator relevante é a ausência de julgamento. Muitos usuários relatam que se sentem mais confortáveis desabafando com uma IA do que com pessoas próximas. A sensação de anonimato e neutralidade incentiva a abertura emocional. Com isso, a IA passa a ocupar um espaço de escuta que, em alguns casos, ainda está ausente no ambiente familiar ou social.
Além disso, a curiosidade sobre as novas tecnologias impulsiona o uso. A ideia de conversar com uma máquina que entende sentimentos parece futurista e empolgante. Porém, conforme especialistas explicam, essa empolgação pode levar a uma falsa sensação de acompanhamento terapêutico, o que exige cautela e reflexão.
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Quais os benefícios mais citados por quem usa IA para fazer terapia?
Usuários que utilizam a IA como ferramenta terapêutica destacam principalmente o acolhimento imediato. Muitos relatam que, ao digitar seus problemas e receber uma resposta empática, sentem um alívio momentâneo. Mesmo que saibam que estão falando com uma máquina, a linguagem acolhedora e os conselhos diretos proporcionam conforto.
Outro benefício apontado é a praticidade. Ao contrário de um terapeuta, a IA não exige agendamento, deslocamento ou pagamento. Para quem enfrenta dificuldades financeiras ou vive em regiões com poucos profissionais de saúde mental, essa pode parecer a única alternativa disponível.
Além disso, a capacidade da IA de lembrar interações anteriores cria a ilusão de vínculo. Algumas pessoas chegam a nomear a IA como se fosse um terapeuta pessoal. Essa familiaridade com a tecnologia ajuda a manter a rotina de conversas e reforça a ideia de continuidade, mesmo que não haja uma evolução terapêutica de fato.
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Quais os principais alertas feitos por especialistas?

Embora a IA pareça oferecer suporte emocional, psicólogos afirmam que ela não tem capacidade clínica para analisar profundamente um caso. As respostas são baseadas em padrões de linguagem e estatísticas, não em empatia real. Isso pode levar a orientações genéricas ou, em casos extremos, até equivocadas.
Outro risco envolve a complacência excessiva. Muitos sistemas de IA tendem a concordar com tudo que o usuário escreve, mesmo que as ideias estejam ligadas a comportamentos destrutivos. Como resultado, a pessoa pode se sentir validada de forma indevida, reforçando padrões mentais que precisariam ser questionados em um processo terapêutico.
Além disso, especialistas ressaltam que o processo terapêutico real exige análise de linguagem corporal, tom de voz e emoções sutis, algo que a inteligência artificial não consegue captar. Portanto, confiar exclusivamente na IA para lidar com questões emocionais pode limitar o desenvolvimento e a cura do paciente.
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IA pode ser usada como apoio complementar na terapia?
Apesar dos riscos, alguns pesquisadores afirmam que a IA para fazer terapia pode funcionar como ferramenta complementar. Ela pode auxiliar no monitoramento de emoções, no incentivo à escrita terapêutica e no registro de comportamentos. Desde que não substitua o acompanhamento clínico, a tecnologia pode agregar valor à rotina de cuidados.
Estudos indicam que, em casos leves de ansiedade e depressão, interações com IA podem gerar algum progresso. Por exemplo, o Therabot, desenvolvido por pesquisadores da Dartmouth College, demonstrou redução de sintomas em pacientes que utilizaram o sistema por algumas semanas. Entretanto, o próprio estudo alerta que os resultados não substituem o tratamento tradicional.
Para que o uso da IA seja seguro, é fundamental que o usuário compreenda suas limitações. Ela pode funcionar como um diário interativo ou uma ferramenta de organização emocional, mas não deve ser vista como substituta de um terapeuta. O apoio humano ainda é insubstituível quando se trata de saúde mental profunda e duradoura.
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Existe risco de privacidade ao usar IA para fazer terapia?
Sim, há um risco real relacionado à privacidade. Muitos aplicativos de IA utilizam as conversas dos usuários para treinar seus sistemas e melhorar suas respostas. Isso significa que informações confidenciais, emocionais ou delicadas podem ser armazenadas e analisadas sem o pleno conhecimento de quem escreveu.
Grande parte dos usuários não lê os termos de uso dessas plataformas. Isso abre espaço para o uso indevido de dados, principalmente quando se trata de saúde mental. Algumas empresas podem até vender informações a terceiros ou usá-las para direcionamento de anúncios, o que compromete a ética e a segurança.
Por isso, especialistas recomendam cautela. Antes de usar uma IA para desabafar, é importante verificar a política de privacidade da plataforma e, se possível, evitar expor dados pessoais ou histórias que possam ser sensíveis. A proteção da saúde mental começa também pelo cuidado com a informação.
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