700 milhões de barris de petróleo em cavernas para crises globais

No subsolo do Texas e da Louisiana, os Estados Unidos guardam uma verdadeira fortaleza energética: a Reserva Estratégica de Petróleo, conhecida como SPR. Essa reserva conta com centenas de milhões de barris de petróleo armazenados em cavernas de sal subterrâneas. O objetivo é garantir uma proteção em situações de crises globais e conflitos, funcionando como uma espécie de seguro energético.

A discussão sobre o futuro dessa reserva ganhou força recentemente, especialmente após a maior liberação de petróleo da história, que ocorreu em 2025. Esse movimento está no centro de um intenso debate político e econômico, refletindo diretamente na segurança energética dos EUA e no equilíbrio dos mercados globais.

O que é a Reserva Estratégica de Petróleo (SPR) e por que ela foi criada?

A SPR não surgiu de um plano estratégico, mas sim de uma resposta reativa à crise do petróleo de 1973-74. Naquela época, um embargo árabe fez com que a economia americana enfrentasse dificuldades severas, fazendo os motoristas enfrentarem filas enormes nos postos de gasolina. Para evitar ficar vulnerável a novas crises de abastecimento, o Congresso dos EUA aprovou, em dezembro de 1975, a criação dessa reserva.

O intuito era claro: montar um estoque de emergência de petróleo, minimizando as consequências de futuras interrupções. A primeira entrega de petróleo ocorreu em julho de 1977, e em 2010 a reserva atingiu seu auge, com 726,6 milhões de barris.

A engenharia de uma fortaleza: como funcionam as cavernas de sal

O armazenamento em cavernas de sal foi uma decisão inteligente, tanto do ponto de vista econômico quanto técnico. O custo desse método é até dez vezes menor do que o uso de tanques convencionais. As cavernas, localizadas na costa do Golfo, foram escolhidas pela proximidade com refinarias e portos.

Hoje, a SPR conta com 60 cavernas de sal, criadas a partir de um processo chamado de "mineração por solução". Nesse método, água doce é injetada em alta pressão no domo de sal, dissolvendo-o. O resultado é uma caverna imensa e segura, grande o bastante para abrigar ícones como a Willis Tower, de Chicago. Para retirar o petróleo, utiliza-se água, levando o petróleo a flutuar e ser empurrado para a superfície.

Quando a reserva é usada: das guerras aos furacões

Desde que foi criada, a SPR foi acionada em quatro grandes situações de emergência:

  • Operação Tempestade no Deserto (1991): utilizada durante a Guerra do Golfo para estabilizar o mercado.
  • Furacão Katrina (2005): ajudou a compensar a interrupção da produção na Costa do Golfo.
  • Guerra Civil na Líbia (2011): liberada em uma ação coordenada com a AIE para evitar uma crise de preços globais.
  • Invasão da Ucrânia pela Rússia (2022): a maior liberação já registrada, com a intenção de conter o aumento dos preços da energia.

Além das emergências, o Congresso também autorizou vendas da reserva para financiar outras prioridades do governo, transformando esse estoque em uma espécie de "poupança" federal.

O ciclo 2022-2025: liberação de petróleo e estratégia financeira

Nos últimos anos, a gestão da SPR passou por mudanças significativas. Em resposta à guerra na Ucrânia, o governo Biden liberou 180 milhões de barris, considerado um passo importante para diminuir os preços da gasolina no país.

A venda foi feita a um preço médio de US$ 95 por barril. Quando os preços globais caíram, o governo iniciou a recompra por cerca de US$ 75 por barril, resultando em uma operação financeiramente vantajosa. No entanto, essa movimentação fez com que os estoques chegassem ao nível mais baixo em 40 anos. A última atualização, em março de 2025, indicou que haviam aproximadamente 396,7 milhões de barris, ainda distante da capacidade máxima de 714 milhões.

O futuro da reserva em 2025: debates e transição energética

O futuro dos barris protegidos nas cavernas de sal é um tema de grande discussão política nos EUA. A administração Trump, por exemplo, planejou reabastecer a reserva ao máximo, vendo-a como uma fortaleza para grandes emergências.

Entretanto, surge uma dúvida: qual deverá ser o tamanho ideal da reserva, considerando que os EUA se tornaram um grande exportador de petróleo? Além disso, uma ideia inovadora começa a se destacar: que tal transformar a infraestrutura da reserva? As cavernas, que são ideais para armazenar petróleo, podem ser adaptadas para guardar hidrogênio verde, fazendo da SPR uma fortaleza da energia limpa e garantindo a segurança energética dos EUA para o futuro, independentemente da fonte de energia.